Psicologia dos Jogos de Azar

Contente

• Principais Destaques
• Chance e Risco
• Recompensas e Incentivos
• Tomada de Decisões sob Incerteza
• Perda e Arrependimento
• Vício e Compulsão
• Crenças e Mitos sobre Jogos de Azar
• Conclusão

O jogo é uma atividade complexa, que envolve tanto o acaso quanto as habilidades de quem joga. De qualquer forma, os fatores psicológicos que influenciam a forma como as pessoas percebem e avaliam o risco, em especial no contexto dos jogos de azar, podem afetar significativamente o comportamento dos sujeitos e os resultados obtidos.

Abaixo, você encontrará alguns fatores associados às chances e aos riscos na psicologia dos jogos de azar.

Em geral, os seres humanos são avessos ao risco, o que significa que preferem evitar situações com resultados incertos. No entanto, essa tendência pode ser anulada pelo excesso de confiança, que é a crença de que se tem uma capacidade maior do que a real de controlar ou prever eventos.

Os jogadores que são excessivamente confiantes podem superestimar suas chances de ganhar e subestimar suas chances de perder. Isso pode levá-los a tomar decisões arriscadas que, em última análise, levam a perdas.

A falácia do apostador é a crença errônea de que o resultado de um evento aleatório pode ser influenciado por resultados anteriores. Por exemplo, um apostador que acabou de ganhar várias vezes pode acreditar que está prestes a perder, embora o resultado de cada jogo individual seja independente dos anteriores.

Essa falácia pode levar os apostadores a tomar decisões pouco racionais, como aumentar suas apostas após uma vitória na tentativa de “capitalizar a sorte”.

Nossos processos de tomada de decisão são frequentemente influenciados por vieses cognitivos, que são atalhos ou heurísticas que podem levar a erros de julgamento. Esses vieses podem ser particularmente problemáticos no contexto de jogos de azar, nos quais estamos lidando com situações probabilísticas complexas.

Por exemplo, o viés de disponibilidade nos leva a superestimar a importância dos eventos que são mais facilmente lembrados, enquanto os efeitos de enquadramento podem influenciar nossas decisões com base na forma como as informações são apresentadas.

A compreensão desses fatores psicológicos é fundamental para o desenvolvimento de estratégias eficazes de tratamento em relação aos jogos. Isso porque, ao reconhecermos os vieses cognitivos e a heurística que influenciam o comportamento de jogo, podemos ajudar os jogadores a tomar decisões mais informadas e racionais.

As recompensas e os incentivos desempenham um papel significativo na psicologia do jogo, influenciando tanto a mentalidade do jogador quanto o design dos produtos de jogo.

As atividades de jogo, geralmente, provocam a liberação de dopamina, um neurotransmissor associado ao prazer e à recompensa. Essa descarga de dopamina pode ser altamente reforçadora, tornando a atividade de jogar mais agradável e memorável.

A antecipação de possíveis recompensas, como ganhar grandes prêmios, também pode ser um poderoso motivador para o comportamento de jogo. Essa antecipação pode levar a um aumento da excitação e do entusiasmo, o que pode melhorar ainda mais a experiência do jogo.

A falácia do custo irrecuperável é a tendência de continuar investindo em um curso de ação, mesmo quando ele não é mais racional ou lucrativo, devido ao investimento que já foi feito.

Essa falácia pode ser particularmente problemática em jogos de azar, pois pode levar os jogadores a continuar jogando mesmo quando estão perdendo dinheiro. Os apostadores podem acreditar que precisam recuperar suas perdas, ou que estão “perto de ganhar”, embora essas crenças não estejam apoiadas nas probabilidades.

As operadoras de jogos de azar, geralmente, usam recompensas e incentivos para atrair e reter jogadores. Isso pode incluir a oferta de bônus e promoções, além da formação de programas de fidelidade.

Essas recompensas podem ser eficazes para aumentar a frequência e a duração do comportamento de jogo; no entanto, é importante observar que elas também podem contribuir para o vício e problemas envolvendo jogos.

As operadoras de jogos de azar devem considerar cuidadosamente o uso de recompensas e incentivos em seus produtos e suas campanhas de marketing. É importante encontrar um equilíbrio entre atrair e reter jogadores, e, ao mesmo tempo, minimizar o risco de problemas com o jogo.

Uma abordagem para isso é usar recompensas que sejam mais intrínsecas, como a satisfação de ganho ou a interação social com outros jogadores. Isso pode ajudar a reduzir o foco em recompensas externas e o potencial de dependência do jogo.

Também é importante fornecer informações e apoio para ajudar os jogadores a atuarem de forma responsável. Isso pode incluir a disposição de dados sobre os riscos do jogo, de ferramentas para o gerenciamento de comportamento e de links para serviços de apoio.

O jogo é inerentemente arriscado, e a tomada de decisões sob incerteza é um fator fundamental para determinação do comportamento do jogador. O jogo envolve fazer escolhas com informações incompletas ou ambíguas, o que pode dificultar a avaliação dos possíveis resultados das decisões.

Os seres humanos, geralmente, recorrem a vieses cognitivos e a heurísticas, também conhecidas como atalhos mentais, para tomar decisões em situações de incerteza. Esses atalhos podem ser úteis em alguns casos, mas também podem levar a erros de julgamento. Alguns vieses cognitivos comuns, que afetam o jogo, estão dispostos a seguir.:

• Viés de disponibilidade: tendemos a superestimar a importância dos eventos que são mais facilmente lembrados. Por exemplo, um jogador que acabou de ganhar uma grande quantia de dinheiro pode estar mais propenso a apostar mais dinheiro no futuro, mesmo que essa não seja uma decisão racional baseada nas probabilidades.
• Efeitos de enquadramento: a forma como as informações são apresentadas pode influenciar nossas decisões. Por exemplo, se uma promoção de jogos de azar for apresentada como uma oportunidade de “evitar perdas”, em vez de uma oportunidade de “buscar ganhos”, ela poderá ser mais atraente para os jogadores que são avessos a perdas.
• Ancoragem: temos a tendência de confiar demais na primeira informação que recebemos, mesmo que ela não seja relevante para a decisão em questão. Por exemplo, um apostador que recebe um ponto de partida alto em um jogo de azar pode estar mais propenso a apostar mais dinheiro, mesmo que as chances de ganhar sejam as mesmas, independentemente do ponto de partida.

O jogo é uma atividade emocional, e, por isso, as emoções podem influenciar consideravelmente a tomada de decisões. Quando nos sentimos empolgados, nosso julgamento pode ser prejudicado, e isso pode nos tornar mais propensos a correr riscos e a tomar decisões impulsivas.

Os ambientes de jogos de azar, geralmente, são projetados para evocar emoções fortes, como excitação e expectativa. Isso pode fazer com que seja mais difícil para os jogadores pensarem com clareza e tomarem decisões racionais.

A aversão à perda – ocasionada pela tendência de evitar sentir dor, sensação, essa, que se experiencia mais profundamente diante das perdas do que o prazer diante dos ganhos – é um poderoso motivador no jogo. Os jogadores que sofrem perdas podem sentir um arrependimento intenso e podem estar mais dispostos a correr riscos na tentativa de recuperar seus prejuízos.

Isso pode levar a um ciclo vicioso de perseguição de perdas, o que, em última análise, conduz a perdas financeiras ainda maiores.

Os indivíduos, ao jogarem, tentam exercer controle sobre uma situação que é inerentemente aleatória. Isso pode levá-los a acreditar que conseguem prever ou influenciar o resultado dos jogos, mesmo que isso não seja possível de fato.

Os ambientes de jogos de azar reforçam essa ilusão de controle por meio de luzes piscantes, música alta e outros estímulos, os quais podem criar sensações de excitação e expectativa.

Os operadores de jogos de azar devem estar cientes dos vieses cognitivos e das heurísticas que afetam o comportamento no jogo. Eles também devem estar cientes dos fatores emocionais que podem influenciar as tomadas de decisões.

Uma maneira de abordar essas questões é fornecer aos jogadores informações sobre os riscos do jogo e sobre a importância do estabelecimento de limites. As operadoras de jogos de azar também podem oferecer ferramentas e recursos para ajudar os jogadores a gerenciar seus comportamentos.

Ao compreender a psicologia da tomada de decisões sob incerteza, os operadores de jogos de azar podem ajudar a criar um ambiente de jogo mais responsável.

A perda e o arrependimento são emoções poderosas e que podem afetar significativamente o comportamento de jogo. Compreender essas emoções é algo fundamental para o desenvolvimento de estratégias eficazes de prevenção e tratamento em relação ao jogo.

Aversão à perda

A aversão à perda é a tendência de sentir mais dor com as perdas do que prazer com os ganhos. Essa é uma reação humana natural, pois é mais importante para nossa sobrevivência evitar danos do que sentir prazer.

No contexto do jogo, a aversão à perda pode levar a uma série de problemas. Por exemplo, os jogadores podem estar mais propensos a correr atrás das perdas em uma tentativa de recuperá-las. Isso pode levar a mais perdas, o que exacerba os problemas do sujeito com o jogo.

Arrependimento

Arrependimento é o sentimento de tristeza ou de remorso por ações passadas. As perdas em jogos de azar podem levar a um arrependimento intenso, no qual os sujeitos sentem que cometeram um erro ou agiram de forma insensata.

Esse arrependimento pode motivar os jogadores a tentar reverter suas perdas, mesmo que essa não seja uma decisão racional ou lucrativa. Esse mesmo princípio conduz os jogadores a evitar pensar em suas perdas, o que pode dificultar o aprendizado a partir do contato com elas e a tomada de decisões melhores no futuro.

Impacto das perdas e do arrependimento no comportamento de jogo

• Perseguição das perdas: em uma tentativa de recuperar suas perdas, os jogadores aumentam suas apostas ou jogam por períodos mais longos. Isso pode produzir mais perdas e exacerbar os problemas com o jogo.
• Evitação: os jogadores podem evitar pensar em suas perdas, o que dificulta o aprendizado com base nas experiências obtidas com elas, assim como a tomada de decisões de melhor qualidade no futuro.
• Comportamento de risco: os jogadores podem assumir mais riscos em uma tentativa de evitar ou minimizar a dor de perdas futuras. Isso pode levar a perdas financeiras ainda maiores.

Estratégias para lidar com as perdas e o arrependimento

• Estabelecer limites: os jogadores devem estabelecer limites para o quanto estão dispostos a perder e se ater a esses limites. Isso ajuda a evitar perdas excessivas e até mesmo a ruína financeira.
• Fazer pausas: os jogadores devem parar de jogar quando estiverem se sentindo frustrados ou com raiva. Isso evita a tomada de decisões impulsivas.
• Converse com alguém: os jogadores devem conversar com um amigo, um familiar ou um terapeuta de confiança sobre suas preocupações com o jogo. Isso pode ajudá-los a desenvolver mecanismos de enfrentamento e a fazer escolhas mais saudáveis.

Vício e compulsão são dois conceitos-chave na psicologia do jogo que descrevem os efeitos prejudiciais que essa atividade pode ter sobre os indivíduos.

O vício é caracterizado por uma dependência do jogo que leva a consequências negativas na vida de um sujeito. A compulsão é caracterizada por um desejo irresistível de jogar, mesmo quando isso causa danos.

O vício em jogos de azar é um distúrbio complexo que pode ser caracterizado por:

• um desejo forte e persistente de jogar;
• perda de controle sobre o comportamento de jogo;
• continuação do jogo, apesar das consequências negativas;
• preocupação com o jogo;
• tolerância ao jogo, o que exige maiores apostas ou intensa frequência para que se atinja o nível de excitação ou satisfação anterior;
• sintomas de abstinência quando não é possível jogar.

A compulsão por jogos de azar é um desejo forte e irresistível de jogar, mesmo quando isso causa danos, e é caracterizada por:

• incapacidade de resistir à vontade de jogar;
• uma sensação de ansiedade ou de angústia no sujeito quando ele não está jogando;
• preocupação com pensamentos envolvendo o jogo;
• falta de consciência acerca das consequências negativas do jogo.

Há vários tratamentos eficazes para o vício e a compulsão por jogos de azar. Alguns estão listados a seguir.

• Terapia cognitivo-comportamental (TCC): a TCC pode ajudar os indivíduos a identificar e a mudar os pensamentos e as crenças distorcidas que influenciam o comportamento de jogar.
• Terapia de jogo: a terapia de jogo é uma forma de psicoterapia projetada especificamente para tratar o vício em jogo.
• Grupos de autoajuda: grupos de autoajuda, como os Jogadores Anônimos, podem oferecer apoio e incentivo a pessoas que lutam contra o vício em jogos de azar.

Há uma série de medidas que podem ser tomadas para evitar o vício e a compulsão por jogos de azar.

• Educar os jovens sobre os riscos do jogo: a educação sobre os riscos do jogo pode ajudar os jovens a tomar decisões informadas sobre seus comportamentos.
• Promover o jogo responsável: as iniciativas de jogo responsável podem ajudar a reduzir o risco de dependência do jogo ao promover hábitos saudáveis.
• Triagem de problemas com o jogo: a triagem de problemas com jogos de azar pode identificar indivíduos que correm o risco de desenvolver um vício em jogos de azar para lhes oferecer uma intervenção precoce.

Ao compreender a psicologia do vício e da compulsão, podemos entender melhor os fatores que contribuem para os problemas com jogos de azar e, com isso, desenvolver estratégias eficazes de prevenção e tratamento.

As crenças e os mitos sobre jogos de azar podem desempenhar um papel significativo no comportamento das pessoas na hora de jogar. Essas percepções podem se basear em concepções errôneas, informações falsas ou experiências pessoais. Elas também podem ser reforçadas pelo marketing e pela publicidade do jogo. Algumas delas são:

• “O jogo pode torná-lo rico” – Esse é um mito comum e que é frequentemente promovido pelo marketing de jogos de azar. Na realidade, o jogo é uma forma de entretenimento criada para gerar lucros para o operador do jogo (leia mais sobre isso no artigo “Como as empresas de apostas ganham dinheiro“. As probabilidades estão sempre a favor do cassino, portanto, é estatisticamente impossível ganhar dinheiro a longo prazo por meio de jogos de azar.
• “Se você estiver em uma maré de sorte, continue jogando” – Esse é outro mito bastante comum e que pode levar a problemas com o jogo. A falácia do apostador é a crença errônea de que o resultado de um evento aleatório pode ser influenciado por resultados anteriores. Na realidade, cada jogo é independente dos anteriores, portanto, não há como prever ou influenciar o resultado de um jogo.
• “Você pode recuperar suas perdas apostando mais” – Esse é um mito perigoso e que pode levar à perseguição de perdas. Perseguir perdas é a tendência de aumentar as apostas em uma tentativa de recuperar prejuízos anteriores. Isso pode levar a perdas ainda maiores e a exacerbar os problemas do jogo.
• “Você pode vencer o sistema” – Esse é outro mito que pode levar a problemas com jogos de azar. Não existe um sistema infalível para ganhar no jogo. Qualquer sistema que afirme ser capaz de vencer a casa é uma fraude ou se baseia em uma lógica errônea.
• “O jogo é uma forma inofensiva de entretenimento” – Esse é um mito que pode levar a problemas com o jogo. O jogo pode ser prejudicial para pessoas com risco de dependência ou que tenham outros problemas de saúde mental. Também pode levar a problemas financeiros, problemas de relacionamento e problemas legais.

O jogo é uma atividade complexa, influenciada por vários fatores psicológicos. O excesso de confiança na vitória pode levar a decisões arriscadas, enquanto as emoções positivas e negativas moldam o comportamento do sujeito no jogo. Ademais, a aversão à perda torna difícil parar de jogar depois de uma perda.

Reconhecer esses elementos psicológicos é fundamental para o tratamento eficaz do vício. O jogo responsável é vital para que problemas sejam evitados e hábitos saudáveis sejam promovidos.